domingo, 6 de maio de 2012

ECONOMIA, PUBLICIDADE E AUDIOVISUAL

Com a finalidade de estimular o consumo de bens e serviços, as empresas desenvolvem junto aos seus adquirentes em potencial imagens mentais que induzem pessoas para a criação de aspirações/necessidades. Quase sempre, os governos não fazem diferente. Quando apresentam para a sociedade uma imagem positiva da sua atuação, também querem ser considerados como necessários. Para tanto, ambos aplicam recursos em artes e técnicas - a publicidade - hoje fortemente centrada na comunicação audiovisual veiculada via TV. 
Diante do quadro de dificuldades já configurado na economia – global e do país, e com a trajetória de agravamento que se delineia, aqui se questiona: será que a opção prioritária, senão a única, para os investimentos em comunicação audiovisual de caráter publicitário, por parte das empresas, continuará sendo o estímulo ao consumo dos produtos ou serviços que têm a oferecer?. E, da parte dos governos, a “venda” de imagem? Não existem outros espaços, outros propósitos para a publicidade, algo que é tão presente junto a milhões de pessoas no seu dia-a-dia?
Sabemos do nosso perfil preponderante de brasileiros pouco poupadores. Muitos de nós somos consumidores inveterados, mesmo que sem estrutura financeira ou econômica correspondente. Bem estimulados, então... Vide a atual situação de tantos e tantos servidores públicos em atividade, aposentados e pensionistas que se empolgam com o crédito consignado... Profissionais liberais e trabalhadores em geral, na sua grande maioria com baixo poder aquisitivo real, deliciam-se com as maravilhosas facilidades dos generosos cartões de crédito...
Pergunto, então: e se uma parcela dos recursos aplicados no modelo de publicidade corrente – e também contemplada com as mesmas artes, técnicas e veiculação massiva - fosse destinada para outros propósitos/temas – esses, desvinculados da competição imediata por produtos, “preços” e clientes? Uma publicidade voltada, em primeiro lugar, para estimular e apoiar o desenvolvimento sócio-econômico sustentável de uma forma mais vigorosa? 
Estou tratando de maior integração entre a publicidade (governamental ou empresarial) e uma concepção de desenvolvimento sócio-econômico que dissemine capacidades para a geração de novas riquezas, vise a obtenção de condições de vida digna e conforto para todos os cidadãos, priorize a preservação do meio ambiente, educação, saúde, justiça, e ética, dentre tantos outros direitos básicos e valores cada vez mais rarefeitos. 
Estou tratando de uma publicidade (e, consequentemente, de uma comunicação audiovisual) vigorosamente mais integrada com ações voltadas para um efetivo desenvolvimento sócio-econômico, uma publicidade que se posicione conceitualmente além do estímulo ao supérfluo, da criação imagética de necessidades, do estímulo ao endividamento e à inevitável inadimplência.
Não tenho a menor dúvida de que a implementação de campanhas voltadas para essa perspectiva representará a abertura de uma nova frente de trabalho para a produção audiovisual, ampliando as oportunidades para muitos profissionais que nela encontrarão novos desafios para exercerem a sua capacidade criadora e competência técnica.


Raymundo Mendonça
Cineasta e Mestre em Administração, atua em 
Treinamento e Desenvolvimento de Recursos 
Humanos e Comunicação Audiovisual Aplicada.

Um comentário:

Paulo Leão disse...

Parabenizo o amigo Raymundo pela lucidez e desenvolvimento do seu enfoque e gostaria de pedir licença para estender o conceito à atuação da grande maioria da imprensa brasileira que se deixa levar pela fácil notícia vendável esquecendo muitas vezes do seu importante papel transformador e formador, nivelando desta forma por baixo os já tão baixos espírito crítico e conteúdo cultural do nosso povo. A imprensa de massa não está sendo 'clara, correta e concisa' e muito menos 'neutra', ela está se omitindo em relação aos seus propósitos mais importantes, e com isso, aumentando a distância do povo brasileiro em alcançar um patamar mais elevado e desenvolvido, social e culturalmente. A notícia e os noticiários também se transformaram, sem perceber, nesta 'publicidade' apontada no texto do senhor Raymundo. Com relação às telenovelas e aos programas de auditório da tv aberta que influenciam milhões de brasileiros então nem vamos comentar... tudo cai neste tipo de 'publicidade' e o resultado é, por conta disso, estarmos vivendo num perigoso mundo do 'faz-de-contas'.
www.olharfilmes.blogspot.com

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